quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Destino - Uma Produção de Salvador Dalí e Walt Disney


Destino é o storyboarderd lançado pelos estúdios Disney em 2003 que teve como parceria John Hench e o pintor surrealista Salvador Dalí.
O curta-metragem foi idealizado em 1945 e durou oito meses, indo até 1946, porém a produção cessou pouco tempo depois devido a problemas financeiros enfrentados pela Walt Disney Studios durante a II Guerra Mundial. Hench compilou um teste de curta de animação de 17 segundos na esperança de reacender o interesse da Disney no projeto, mas a produção já não era considerada economicamente viável e colocaram um hiato por tempo indeterminado.
Em 1999, enquanto a Disney trabalhava no filme Fantasia 2000, o projeto vou trazido novamente a vida. A Disney Studios França, uma pequena empresa parisiense foi trazida a bordo para completar o projeto. O curta foi produzido por Blake Bloodworth e dirigido pelo animador francês Dominique Monfréy em seu primeiro papel como diretor.
Destino estreiou em 02 de junho de 2003 no Festival Internacional de Cinema de Annecy Animated em Annecy, França. O curta de seis minutos conta a história de Chronos e o amor malfadado que ele tem por uma mulher mortal. A história passa por danças do sexo feminino com o cenário surreal inspirado por pinturas de Dalí. Não há diálogo, mas a trilha sonora preenche esta lacuna com músicas do compositor mexicano Armando Dominguez.
Além dos vários prêmios recebidos, o curta ainda foi indicado ao Oscar 2003 na categoria de Melhor Curta de Animação.
Simplesmente uma mágica animação onde a clássica experiência em filmes musicais da Disney, mas com um enredo previsível, se rende ao surrealismo de Salvador Dalí.
Confira o curta. Reparem que ao final, durante os créditos, são apresentadas as obras de Dalí que inspiraram o filme.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Saturnais ou "A Invenção das Festas de Fim de Ano"


Com as festas de fim de ano próximas, é muito comum vermos (e até mesmo participarmos) de amigos ocultos, amigos chocolate e diversos outros conhecidos por aí.
Desejar que coisas boas aconteçam no próximo ano e esperar que tudo melhore no ano que vai nascer, já faz parte do pacote vindo de fábrica do ser humano, projetado por Deus (seja ele quem for). O espírito natalino paira constantemente no ar.
No meio de toda esta festividade, envolvendo presentes natalinos, champagne (ou cidra sabor maçã, para os mais humildes), roupas brancas - se for íntima, tem uma cor específica para o seu desejo de ano novo - e fogos de artifício, alguém já parou para pensar de onde tudo isso veio e o porquê?
Pois bem, a minha teoria é que toda essa cultura que nos cerca, principalmente povos ocidentais, provém da Roma Antiga, nas festas em honra ao deus Saturno (Cronos na mitologia grega) denominadas Saturnais ou Saturnálias.
Para que se familiarizem com esta festividade do século 217 a.C., aí vai um pouco da sua história.

Saturnais ou Saturnálias Romanas

As Saturnais era um festival romano em honra ao deus Saturno que ocorria no mês de dezembro, no solstício de inverno (era celebrada no dia 17 de dezembro, mas ao longo dos tempos foi alargada à semana completa, terminando a 23 de dezembro). As Saturnais tinham início com grandes banquetes e sacrifícios; os participantes tinham o hábito de saudar-se com Io Saturnália, acompanhado por doações simbólicas. Durante estes festejamentos subvertia-se a ordem social: os escravos se comportavam temporariamente como homens livres; elegia-se, à sorte, um "princeps" - uma espécie de caricatura da classe nobre - a quem se entregava todo o poder. Na verdade a conotação religiosa da festa prevalecia sobre aquela social e de "classe". O "princeps" vinha geralmente vestido com uma máscara engraçada e com cores chamativas, dentre as quais prevalecia o vermelho (a cor dos deuses). As Saturnais emulavam essa idade dourada e, durante esse período, suspendiam-se temporariamente as actividades comerciais, fechavam-se escolas, o Senado ou os tribunais, permitia-se todo o tipo de jogos de azar e apostas e era habitual oferecer-se saquinhos de nozes, velas ou pequenos bonecos de argila. O povo esperava-as ansiosamente.
A Saturnal reunia as comemorações pelo fim do ano agrário e religioso, somados também ao fim de um ano “velho” e início de outro novo, enchendo os romanos de esperanças e expectativas quando as próximas colheitas e o ano que começava. Além disso, rememoravam os tempos da Idade de Ouro, em que havia abundância e igualdade. Era uma festividade bastante comemorada, sendo uma das mais populares em Roma. Afinal, a agricultura era a atividade que estava na base dessa sociedade – meio de subsistência para os camponeses e fonte de renda para a elite.
Durante sua comemoração faziam-se sacrifícios a Saturno e a estátua do seu templo tinha, simbolicamente, fios de lã retirados dos seus pés para representar sua libertação. Depois dos sacrifícios, tinha início o banquete público, que parece ter se iniciado em 217 a. C, segundo Tito Lívio. Banquetes em que a imagem do deus Saturno era colocada junto à mesa – lectisternium – também podem ter ocorrido. Dava-se início, então, às festas e divertimentos.
Os assuntos mais sérios deveriam ser tratados na parte da manhã e à noite, durante o banquete, enquanto bebiam, deveriam falar dos assuntos mais leves e levianos. Esses dias deveriam ser de alegria. Faziam-se piadas e jogos de azar eram realizados pelas ruas, os quais eram proibidos no restante do ano.
Um costume comum na Saturnália era visitar os amigos e trocar de presentes. Os presentes eram as sigillaria, pequenas figuras de terracota ou prata ou ainda velas de cera, representando a luz na escuridão.
O que muitos autores destacam é a inversão da ordem durante a comemoração em honra a Saturno. Todos os homens, escravos ou cidadãos, ficavam em igualdade. As barreiras jurídicas eram ficticiamente abolidas. Os escravos, portanto, não precisavam trabalhar, podiam se vestir como seus senhores, participar das refeições e jogar dados. Os tribunais eram fechados e com a consequente ausência de leis, não estariam transgredindo a ordem de fato. Essa inversão de valores teria ocorrido apenas na República, segundo Airan dos Santos Borges, que completa ainda escrevendo que “os soldados travestidos escolhiam o rei das saturnais dentre os condenados através de dados. Este rei usaria as insígnias de sua dignidade como o rei dos gracejos e deboches. Após o festival o rei é morto e tudo volta à ordem.”

E você, compartilha da minha teoria ou é contrário. Seja qual for sua opinião, poste-a nos comentários e aproveite bem sua Saturnália, ou melhor dizendo, tenha um ótimo ano novo.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

TEATRO E MERDA


Todo mundo que trabalha com teatro ou que está diretamente ligado a esta magnífica arte, já deve ter ouvido a expressão "Merda" sendo dita aos atores - ou até mesmo entre eles - antes de começarem a apresentação. O que grande parte do público em geral (e até mesmo alguns artistas) não deve saber, é como surgiu tal expressão.
Existe mais de uma versão sobre o tema, até mesmo uma envolvendo a figura do bardo inglês, William Shakespeare, porém a mais plausível e que acredito ser a mais correta é a seguinte.
Durante o século XIX, mais precisamente na França, o público costumava comparecer aos teatros em suas carruagens ou montados em seus cavalos e mantinham suas locomoções por ali, desde o abrir das cortinas até o final do espetáculo. Como chegavam um pouco antes das apresentações, os arredores do edifício teatral ficava habitualmente todo cheio de estrume (merda) dos animais, empestiando o ar das redondezas. Para saberem se a apresentação haveria um bom público, os atores se baseavam na quantidade de merda que havia do lado de fora: quanto mais merda, maior o público. A partir daí, as companhias passaram a desejar "merda" uns aos outros, como sinal de boa sorte, antes de cada apresentação.

Texto originalmente publicado no blog do Grupo Peripatéticos.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Uma Breve História do Rock - Fim Na Ordem


É possível uma banda que durou apenas dois anos e meio e lançou apenas um álbum ser um verdadeiro ícone da história da música? Não estou falando dos Mamonas Assassinas, mas da banda que provocou um verdadeiro pandemônio na terra da rainha. Yes, God Save the Sex Pistols! Se não a melhor, com certeza a mais importante banda de punk rock do mundo.
Formada em Londres em 1975, os Pistols ajudaram a levar o movimento punk do Reino Unido para o mundo inteiro. A formação inicial da banda era Johnny Rotten (vocal), Steve Jones (guitarra), Paul Cook (bateria) e Glen Matlock (baixo), futuramente substituído por Sid Vicious no início de 1977.
O movimento punk, que é um braço do anarquismo, só poderia ter surgido mesmo em uma sociedade tão conservadora como a britânica. E isso era um deleite para a banda, que era garantia de confusão por onde passava. Seus shows sempre causavam problemas para os organizadores.
O único álbum da banda, Never Mind the Bollocks, Here's the Sex Pistols, é uma pedrada na vidraça da Coroa Britânica e convocava os jovens - e a toda sociedade - a abandonarem a submissão aos governantes. Segundo Peter Price "o som representava uma caricatura do rock". No disco, dois singles avassaladores ditam o tom do grupo: God Save the Queen e Anarchy in the U.K.
Infelizmente, após o fim de uma turbulenta turnê nos Estados Unidos, em 1978, Johnny Rotten abandona a banda e anuncia o fim da mesma. Sid Vicious falece em 1979 de overdose de heroína, provocando uma série de boatos sobre o uso de drogas com o fim da banda.
Em pleno século XXI, onde adolescentes imitam os cortes de cabelos de jogadores de futebol e cantores de agro-brega, dizendo terem feito um moicano, mais do que nunca é preciso reavivar nossa memória para o verdadeiro ideal punk e rezar aos "santos Ramones" que surjam mais grupos como os Sex Pistols.


Ouça no volume máximo o hino Anarchy in the U.K.

Baixe também o álbum Never Mind the Bollocks, Here's the Sex Pistols

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

A Terceira Margem do Rio


A Terceira Margem do Rio, foi um espetáculo que participei enquanto era ator do Grupo Mambembe de Música e Teatro da UFOP. No período em que estive no grupo - nos meus bons anos de universidade - participei de vários espetáculos, todos muito especiais, porém, em A Terceira Margem, vivi momentos mágicos junto a todo o elenco. Se me perguntarem por quê, não saberia explicar. Talvez, por ter sido o espetáculo do Mambembe que mais se apresentou - estreiamos em 2004 e circulamos até 2008. Talvez por termos vivenciado uma experiência ímpar, com algumas apresentações em 2005 no Vale do Jequitinhonha, onde a identificação entre atores/platéia/espetáculo foi imediata e intensa; ou talvez até mesmo por ser um espetáculo onde havia um elenco curto (quatro atores e dois músicos) e a união sempre foi uma marca registrada desta montagem. Posso até mesmo dizer, que a forma como o diretor, Flaviano Souza e Silva, conduziu os ensaios, contribuiram para este clima de descontração, que hoje se transforma em nostalgia.
O importante é que com este trabalho, conseguimos atingir o público da forma mais bonita, sincera e gratificante e por mais que o trabalho tenha se acabado, as boas lembranças ficaram em minha memória e com certeza nas de todos elenco e do público que pôde prestigiar este maravilhoso espetáculo.
Para você que não teve a oportunidade de assistir à montagem, aí vai um pouco de A Terceira Margem do Rio, e para os que tiveram o prazer de ver, nunca é o bastante relembrar.


A Terceira Margem do Rio - Ficha Técnica:

Atores:
- Jhon Weiner de Castro
- Roberta Portela
- Samir Antunes
- Waltair de Souza (William Neimar)

Músicos:
- Samuel D'Ângelo (Marcílio Lopes e Helder Silva)
- Ana Montuano (Ângelo Canjani e Saulo Campos)

Abaixo, fotos da última apresentação do espetáculo no lançamento do livro: Recriações: A Trajetória do Mambembe - Música e Teatro Itinerante, em 20/11/2009.


"E esquecer não posso, do dia em que a canoa ficou pronta."
(João Guimarães Rosa - A Terceira Margem do Rio)

Assista este e outros videos em meu canal no youtube: http://www.youtube.com/user/samirantunesilva

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Manifesto Antropófago ou Quem vamos comer hoje?



"ALI VEM NOSSA COMIDA PULANDO" (V. Hans Staden - Cap. 28)

Essa frase estampa a edição número 01 da Revista de Antropofagia, criada pelos modernistas nos idos de 1928. A revista contava com colaboradores como Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Plínio Salgado, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade entre outros.
A revista não tinha uma linha ideológica bem definida, mas foi criada para defender os ideais modernistas que usavam a metáfora do antropofagismo, que em bom portguês significa canibalismo, devorar a carne humana. O canibal não come a carne humana do inimigo por prazer ou gosto, ele o devora apenas quando ele possui alguma virtude que ele (o canibal) deseja ter para si. Desta maneira acredita que se alimentar de seu inimigo, obterá tal virtude.

Criado por Oswald de Andrade, o Antropofagismo Modernista consistia em se "alimentar" da cultura européia - que na época estava vivendo um período de vanguarda através do futurismo e cubismo - e degluti-la, criando assim uma arte nacional nova, livre do parnasianismo. Toda essa ideia de Oswald, culminou no seu mais maduro manifesto, o qual a Revista de Antropofagia publicou.

Ao escrever este artigo, as questões que me moveram foram: De que a arte brasileira se alimenta hoje? Quais culturas ela deglute para se recriar? Será que temos uma identidade artística nacional na atualidade? O período infértil - para não dizermos pobre - em que a arte brasileira vive é fruto de uma antropofagia errada; quero dizer, será que não estamos nos alimentando daquele inimigo que não possue virtude alguma que seja invejável e deixando "vivo" aquele que poderia nos "pré-encher" de um alimento mais salutar?

Rever a nossa história não pode ser apenas um ato saudosista e sim uma retomada a alguns valores esquecidos que podem nos acrescentar "munição" para enfrentar os desafios futuros além de nos alimentar com novos ideais e utopias que compensem lutar por eles.

Voltemos a ser antropófagos, dilaceremos nossos inimigos cheios de virtude para continuarmos a batalha alimentados de saber.

"Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago."

Leia abaixo, na íntegra, o Manifesto Antropófago:


MANIFESTO ANTROPÓFAGO


Só a Antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente.

Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os coletivismos. De todas as religiões. De todos os tratados de paz.

Tupi, or not tupi that is the question.

Contra todas as catequeses. E contra a mãe dos Gracos.

Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago.

Estamos fatigados de todos os maridos católicos suspeitosos postos em drama. Freud acabou com o enigma mulher e com outros sustos da psicologia impressa.

O que atropelava a verdade era a roupa, o impermeável entre o mundo interior e o mundo exterior. A reação contra o homem vestido. O cinema americano informará.

Filhos do sol, mãe dos viventes. Encontrados e amados ferozmente, com toda a hipocrisia da saudade, pelos imigrados, pelos traficados e pelos touristes. No país da cobra grande.

Foi porque nunca tivemos gramáticas, nem coleções de velhos vegetais. E nunca soubemos o que era urbano, suburbano, fronteiriço e continental. Preguiçosos no mapa-múndi do Brasil.

Uma consciência participante, uma rítmica religiosa.

Contra todos os importadores de consciência enlatada. A existência palpável da vida. E a mentalidade pré-lógica para o Sr. Lévy-Bruhl estudar.

Queremos a Revolução Caraiba. Maior que a Revolução Francesa. A unificação de todas as revoltas eficazes na direção do homem. Sem n6s a Europa não teria sequer a sua pobre declaração dos direitos do homem.

A idade de ouro anunciada pela América. A idade de ouro. E todas as girls.

Filiação. O contato com o Brasil Caraíba. Ori Villegaignon print terre. Montaig-ne. O homem natural. Rousseau. Da Revolução Francesa ao Romantismo, à Revolução Bolchevista, à Revolução Surrealista e ao bárbaro tecnizado de Keyserling. Caminhamos..

Nunca fomos catequizados. Vivemos através de um direito sonâmbulo. Fizemos Cristo nascer na Bahia. Ou em Belém do Pará.

Mas nunca admitimos o nascimento da lógica entre nós.

Contra o Padre Vieira. Autor do nosso primeiro empréstimo, para ganhar comissão. O rei-analfabeto dissera-lhe : ponha isso no papel mas sem muita lábia. Fez-se o empréstimo. Gravou-se o açúcar brasileiro. Vieira deixou o dinheiro em Portugal e nos trouxe a lábia.

O espírito recusa-se a conceber o espírito sem o corpo. O antropomorfismo. Necessidade da vacina antropofágica. Para o equilíbrio contra as religiões de meridiano. E as inquisições exteriores.

Só podemos atender ao mundo orecular.

Tínhamos a justiça codificação da vingança. A ciência codificação da Magia. Antropofagia. A transformação permanente do Tabu em totem.

Contra o mundo reversível e as idéias objetivadas. Cadaverizadas. O stop do pensamento que é dinâmico. O indivíduo vitima do sistema. Fonte das injustiças clássicas. Das injustiças românticas. E o esquecimento das conquistas interiores.

Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros.

O instinto Caraíba.

Morte e vida das hipóteses. Da equação eu parte do Cosmos ao axioma Cosmos parte do eu. Subsistência. Conhecimento. Antropofagia.

Contra as elites vegetais. Em comunicação com o solo.

Nunca fomos catequizados. Fizemos foi Carnaval. O índio vestido de senador do Império. Fingindo de Pitt. Ou figurando nas óperas de Alencar cheio de bons sentimentos portugueses.

Já tínhamos o comunismo. Já tínhamos a língua surrealista. A idade de ouro.

Catiti Catiti

Imara Notiá

Notiá Imara

Ipeju*

A magia e a vida. Tínhamos a relação e a distribuição dos bens físicos, dos bens morais, dos bens dignários. E sabíamos transpor o mistério e a morte com o auxílio de algumas formas gramaticais.

Perguntei a um homem o que era o Direito. Ele me respondeu que era a garantia do exercício da possibilidade. Esse homem chamava-se Galli Mathias. Comia.

Só não há determinismo onde há mistério. Mas que temos nós com isso?

Contra as histórias do homem que começam no Cabo Finisterra. O mundo não datado. Não rubricado. Sem Napoleão. Sem César.

A fixação do progresso por meio de catálogos e aparelhos de televisão. Só a maquinaria. E os transfusores de sangue.

Contra as sublimações antagônicas. Trazidas nas caravelas.

Contra a verdade dos povos missionários, definida pela sagacidade de um antropófago, o Visconde de Cairu: – É mentira muitas vezes repetida.

Mas não foram cruzados que vieram. Foram fugitivos de uma civilização que estamos comendo, porque somos fortes e vingativos como o Jabuti.

Se Deus é a consciênda do Universo Incriado, Guaraci é a mãe dos viventes. Jaci é a mãe dos vegetais.

Não tivemos especulação. Mas tínhamos adivinhação. Tínhamos Política que é a ciência da distribuição. E um sistema social-planetário.

As migrações. A fuga dos estados tediosos. Contra as escleroses urbanas. Contra os Conservatórios e o tédio especulativo.

De William James e Voronoff. A transfiguração do Tabu em totem. Antropofagia.

O pater famílias e a criação da Moral da Cegonha: Ignorância real das coisas+ fala de imaginação + sentimento de autoridade ante a prole curiosa.

É preciso partir de um profundo ateísmo para se chegar à idéia de Deus. Mas a caraíba não precisava. Porque tinha Guaraci.

O objetivo criado reage com os Anjos da Queda. Depois Moisés divaga. Que temos nós com isso?

Antes dos portugueses descobrirem o Brasil, o Brasil tinha descoberto a felicidade.

Contra o índio de tocheiro. O índio filho de Maria, afilhado de Catarina de Médicis e genro de D. Antônio de Mariz.

A alegria é a prova dos nove.

No matriarcado de Pindorama.

Contra a Memória fonte do costume. A experiência pessoal renovada.

Somos concretistas. As idéias tomam conta, reagem, queimam gente nas praças públicas. Suprimarnos as idéias e as outras paralisias. Pelos roteiros. Acreditar nos sinais, acreditar nos instrumentos e nas estrelas.

Contra Goethe, a mãe dos Gracos, e a Corte de D. João VI.

A alegria é a prova dos nove.

A luta entre o que se chamaria Incriado e a Criatura – ilustrada pela contradição permanente do homem e o seu Tabu. O amor cotidiano e o modusvivendi capitalista. Antropofagia. Absorção do inimigo sacro. Para transformá-lo em totem. A humana aventura. A terrena finalidade. Porém, só as puras elites conseguiram realizar a antropofagia carnal, que traz em si o mais alto sentido da vida e evita todos os males identificados por Freud, males catequistas. O que se dá não é uma sublimação do instinto sexual. É a escala termométrica do instinto antropofágico. De carnal, ele se torna eletivo e cria a amizade. Afetivo, o amor. Especulativo, a ciência. Desvia-se e transfere-se. Chegamos ao aviltamento. A baixa antropofagia aglomerada nos pecados de catecismo – a inveja, a usura, a calúnia, o assassinato. Peste dos chamados povos cultos e cristianizados, é contra ela que estamos agindo. Antropófagos.

Contra Anchieta cantando as onze mil virgens do céu, na terra de Iracema, – o patriarca João Ramalho fundador de São Paulo.

A nossa independência ainda não foi proclamada. Frape típica de D. João VI: – Meu filho, põe essa coroa na tua cabeça, antes que algum aventureiro o faça! Expulsamos a dinastia. É preciso expulsar o espírito bragantino, as ordenações e o rapé de Maria da Fonte.

Contra a realidade social, vestida e opressora, cadastrada por Freud – a realidade sem complexos, sem loucura, sem prostituições e sem penitenciárias do matriarcado de Pindorama.


OSWALD DE ANDRADE Em Piratininga Ano 374 da Deglutição do Bispo Sardinha." (Revista de Antropofagia, Ano 1, No. 1, maio de 1928.)

* "Lua Nova, ó Lua Nova, assopra em Fulano lembranças de mim", in O Selvagem, de Couto Magalhães

Oswald de Andrade alude ironicamente a um episódio da história do Brasil: o naufrágio do navio em que viajava um bispo português, seguido da morte do mesmo bispo, devorado por índios antropófagos.


quinta-feira, 28 de julho de 2011

Meu Legado Para Dom Quixote

Que eu sempre fui apaixonado pela obra O Engenhoso Fidalgo Dom Quixote de la Mancha de Miguel de Cervantes, isso já revelei. Porém, desta minha paixão, sempre imaginei o que poderia deixar eu para a posteridade que homenagiasse essa tão grandiosa personagem da literatura mundial.
Diante de tal dilema, resolvi, junto ao Grupo Peripatéticos - o qual faço parte - , montar uma adaptação teatral da obra. Montagem essa, que vocês podem conferir maiores detalhes no blog do grupo. Ainda assim, não estava totalmente satisfeito, afinal, um espetáculo teatral não é como um filme, que você pode ver quando quiser, mesmo quando os atores não estiverem mais neste mundo. Aí me voltou a pergunta. O que deixar como homenagem a esta sensacional obra? De repente a resposta surge de uma maneira natural. Na época em que estávamos prestes a estreiar a montagem, sentimos a necessidade de uma identidade visual para o espetáculo que fosse a cara do processo de montagem. Algo que transmitisse os nossos meses de ensaio junto ao resultado final e lembrasse aqueles folhetins de cordel, algo sutilmente presente na nossa adaptação. Foi aí que eu criei este desenho. Seria a imagem ideal para estampar os convites de nosso espetáculo e ainda seria uma obra que ficaria para sempre, homenagiando esta figura tão representativa na literatura mundial e de fundamental importância na minha vida e de tantos outros artistas que, a sua maneira, também fizeram sua homenagem.
Segue aí então o meu Dom Quixote. A minha visão para esta maravilhosa obra. Uma história conhecida por muitos, mas lida por poucos.
Espero que gostem, critiquem, comentem, se divirtam e, assim como nosso Cavaleiro da Triste Figura, sonhem.









sexta-feira, 15 de abril de 2011

F.U.C.K. ME


Quantas vezes já assistimos a filmes de língua inglesa (principalmente os norte-americanos) e nos deparamos com a palavra, transformada em verbo, "FUCK" - vulgarmente traduzida na língua portuguesa por "FODER" - e suas variações (fuck you, fuck me, etc.).
Às vezes me pergunto o que seria da indústria de filmes pornográficos se não existisse essa palavra. Acho que os filmes seriam quase religiosos.
Mas já se perguntaram a origem de tal verbo? Pois então, para quem tem essa curiosidade e nunca descobriu, vou matá-la agora.
Não se sabe bem ao certo se essa resposta é 100% confiável, mas é a mais aceita e provável que existe. Sendo verdade ou não, a origem da palavra F.U.C.K. é a seguinte:
Antigamente, na Inglaterra, não se podia fazer sexo sem o consentimento do rei (a não ser que se tratasse de um membro da familia real). Quando queriam fazer amor, tinham que pedir para o monarca, que lhes entregava uma placa, que deviam colocar na frente da porta de seu quarto enquanto tivessem relações. A placa dizia “Fornification Under Consent of the King”. Em bom português: "Fornicação com o Consentimento do Rei". Essa é a origem da palavra “fuck”.


Já o dedo médio, mais conhecido como "pai de todos", em riste e que é usado como ofensa ao próximo, tem uma outra origem histórica. Assim como a palavra "fuck", não damos 100% a sua veracidade, mas aí vai:
Durante a batalha de Agincourt, na guerra dos 100 anos, Henrique V invadiu a França para reclamar o trono. Na época ele tinha os arcos longos (long bow), que eram considerados a metralhadora da época. O exército francês estava cheio de cavaleiros e tinha uma vantagem de 5/1. Antes da batalha os franceses gritavam do outro lado do campo de batalha que iriam cortar os dedos dos arqueiros ingleses, assim eles nunca mais poderiam usar o "long bow" na batalha. Devido a diversos fatores, os ingleses ganharam, apesar da grande desvantagem. Como vingança os arqueiros ingleses, vitoriosos, gritavam para os franceses remanescentes "olha meu dedo aqui, vocês nao cortaram" e mostravam o dedo médio.
Agora que já sabem, podem mandar o fuck com um dedo bem grande pra tudo aquilo que lhes incomodam.

Baixe aqui a música do ano, segundo a revista TIME, "Fuck You" de Cee-lo Green ou veja o vídeo.